O Inexplicável sumiço da Professora Adelaide Jurasselma
Naquele 9 de julho de 2025, um frio cortante pairava sobre a rua da professora Adelaide Jurasselma. O ambiente, que antes era uma fortaleza de ordem e rotina, se transformou em um palco para o bizarro. Ela, sempre meticulosa, havia instalado câmeras internas em sua residência, uma precaução contra as investidas perturbadoras de um ex-marido que se recusava a aceitar o fim do casamento.
E era exatamente no momento crucial, na "Hora H", que as imagens, antes nítidas, se dissolveram em um borrão indecifrável de estática. Poderia ser um defeito técnico, ou algo mais sinistro. Ninguém soube responder.
Adelaide simplesmente se dissolveu no ar.
Não havia sinais de arrombamento, nenhuma janela quebrada, nem mesmo um bilhete para dar uma pista. Apenas o silêncio, pesado e gélido, ecoava pelos cômodos imaculados de sua casa. O sumiço, repentino e sem explicações, ecoou pela vizinhança. Todos sabiam do inferno pessoal que a professora vivia com o ex-marido; os olhares desconfiados se voltaram imediatamente para ele, mas a polícia, apesar de seus esforços, não encontrou nada concreto para incriminá-lo.
As poucas testemunhas, vizinhos e amigos, tinham apenas teorias, sussurradas em rodinhas, que variavam de sequestro passional a uma fuga orquestrada. "Ela estava tão exausta", comentava a vizinha do lado, "com aquele marido e com o descaso dos alunos…".
Os dias se transformaram em semanas, as semanas em meses. A comoção inicial deu lugar ao silêncio. A vida, com sua inércia implacável, seguiu em frente, e o nome de Adelaide Jurasselma começou a desbotar na memória coletiva da sociedade. O caso, antes estampado nas manchetes locais, virou uma nota de rodapé no álbum empoeirado de mistérios não resolvidos.
A Estranha Revelação e o Limite da Paciência
Então, quando a esperança de um desfecho parecia ter evaporado por completo, algo estranho aconteceu. Cada cidadão da pequena cidade recebeu, de forma misteriosa e anônima, uma versão peculiar dos fatos. Não era uma confissão, nem um depoimento, mas uma narrativa, quase poética em sua estranheza, que ligava o desaparecimento de Adelaide a um evento… digamos, educacional.
A professora Adelaide, sempre dedicada ao magistério, ultimamente andava à beira de um colapso existencial. Passara dias e noites elaborando aulas sobre matérias de "suma relevância", como ela gostava de frisar – embora a relevância, para a maioria de seus alunos, estivesse mais próxima da irrelevância cósmica. Ela sonhava em incutir o amor pelo conhecimento, a paixão pela sabedoria. Preparou uma prova que, em sua mente, seria o ápice do aprendizado. Um exame que não avaliaria apenas a memorização, mas a compreensão profunda, a capacidade de pensar criticamente, a alma do saber.
Chegou o dia da prova. A expectativa de Adelaide era palpável. Imaginava uma floresta de canetas raspando papéis, um mar de mentes jovens em efervescência intelectual. Mas, ao corrigir os testes, a realidade a atingiu como um tsunami de ignorância. Todos os alunos tiraram zero.
Não um zero redondo, mas um zero cósmico, universal, o tipo de zero que faz um buraco negro na alma de um professor. Era como se, em vez de respostas, tivessem entregue rabiscos de chimpanzés em crise existencial. Um zero tão perfeito que parecia uma obra de arte do desinteresse.
O Portal da Ignorância
Foi uma decepção tão avassaladora que os olhos de Adelaide, antes brilhantes de esperança pedagógica, fixaram-se naquele bolo de provas vermelhas, emudecidas pela tinta da reprovação. E foi nesse exato momento, diante da montanha de zeros, que o inexplicável aconteceu.
Uma luz estranha emanou dos papéis, uma espécie de brilho opaco, e Adelaide, com os olhos vidrados naquele mar de "nada", sentiu um puxão irresistível. Ela não foi sugada, nem arrastada; ela foi, segundo a versão anônima, abduzida para aquele mundo de ignorância.
Um mundo onde conceitos como "relevância" eram palavrões, onde a gramática era uma lenda urbana e onde o conhecimento era tão raro quanto um hipopótamo dançando balé clássico. Uma dimensão etérea, forjada pela densidade da falta de aprendizado, pelo peso da indiferença intelectual. E dali, para o horror da narrativa, Adelaide Jurasselma nunca mais conseguiu voltar.
Alguns gargalharam ao ler a versão. Outros balançaram a cabeça em incredulidade, atribuindo a história a um humor negro ou a um surto coletivo. Mas, por mais absurda que parecesse, a história ressoou e repercutiu de uma forma estranha.
Afinal, quem poderia culpar uma professora por desaparecer diante de tamanha prova de ausência de conhecimento? Talvez, apenas talvez, Adelaide Jurasselma tenha encontrado a paz em um universo onde a única pergunta era "qual a capital de nada?", e a resposta era sempre "zero". Ou talvez, ela ainda esteja lá, tentando ensinar matemática básica para alguma entidade de pura apatia.
O que realmente teria acontecido com a professora Adelaide? Teria sido uma fuga peculiar, uma abdução real, a frustração de uma vida dedicada ao ensino a levou a um limite inimaginável, ou simplesmente, literalmente, teria tomado um chá de sumiço?
Muito obrigada por sua leitura! 📚 📚
As trilhas sonoras, também as crio.