Uma Noite, Ratos e Reflexões
A noite descia sobre a rua deserta, prenunciando a chuva que agora cai. Caminhava, apreciando essa quietude melancólica, embora a ideia de ruas desertas no Rio de Janeiro carregue consigo um quê de perigo nos dias de hoje. Em alguns pontos do trajeto, cruzei com ratos, e a imagem me levou à lembrança da morte da minha gata – ironicamente, causada pela minha própria cadela.
Essa cena, a predileção canina por roedores e felinos e a perda, me fizeram divagar sobre nossa própria natureza humana. Somos também predadores, seres com um instinto de sobrevivência que, por vezes, se manifesta de forma crua e sanguinária. Essa falta de empatia, essa frieza egoísta que observamos em nós, ecoa nas teorias da evolução. Darwin me veio à mente, assim como a imagem dos chimpanzés devorando macacos menores.
Sim, os chimpanzés seriam como nós em um estágio anterior, talvez nem tão distante assim. Se a maioria da humanidade é carnívora, quão avançados realmente estamos em relação aos nossos parentes primatas? Esse abater a presa sem piedade, essa frieza egoísta que nos mantém vivos – nós, humanos, com todo o nosso intelecto, não nos distanciamos tanto de nossos companheiros de planeta: ratos, cachorros que matam gatos, felinos que caçam para se alimentar e outras feras. Apesar de, muitas vezes, adquirirmos nossos alimentos de forma indireta, o instinto predatório reside em nós, manifestando-se no consumo de carne. Somos, em essência, ainda bichos, feras.
Veio-me à mente o "Manifesto antropofágico".
pensamentos vagaram então para nossas vestimentas, para o surgimento das modas. Por que a nudez em público causa tanto estranhamento? Quis produzir com Inteligência artificial, seres humanos numa megalópole, no futuro, andando tranquilamente sem roupas. Porém o programa não aceitou o comando e apareceu uma mensagem de possível violação das regras.
É curioso ser um ser feito de carne, com processos internos tão naturais – hidratação, alimentação, digestão, eliminação – e sentir a necessidade de cobrir o corpo. Corpos, de qualquer animal, são inerentemente naturais. E, no entanto, nós usamos roupas para esconder nossos corpos, ou para ostentar riqueza, sucesso, vaidade; revelar costumes, hábitos, profissões. Pessoas se esbarram pelas ruas, envoltas em tecidos. O corpo ainda é um tabu. Lembrei-me da obra " O espelho" de Machado de Assis, cujo protagonista só elevava sua autoestima através da contemplação da farda que vestia.
Talvez, se a humanidade pudesse transitar sem vestimentas, retornando a um estágio animal mais primitivo, o sexo se manifestaria abertamente. Porque, no século XXI, ainda não há nenhum tipo de preparo para isso, como as palavras de Jesus Cristo que há dois mil anos “entram por um ouvido e saem por outro”.
Existem espaços designados para a nudez – colônias naturistas, praias de nudismo, e até mesmo ambientes para a prática do swing. Mas a questão da roupa permanece estranha. Quem sabe, em um patamar evolutivo mais elevado, a nudez não despertasse olhares de lascívia ou assédio?! Seres verdadeiramente evoluídos seriam mais ingênuos, no sentido de pureza de pensamento, não que o sexo seja impuro, longe disso, senão não nasceríamos . A ausência de vestimentas talvez pudesse desviar o foco da sexualização do corpo.
Pensei nos seres extraterrestres, em como são imaginados e em relatos de avistamentos. Seres de outros planetas não usam roupas, pelo menos nas representações que temos. Alguns estudiosos aventam a hipótese de que esses OVNIs e seus ocupantes seriam, na verdade, nós mesmos no futuro, que, por algum motivo, transcenderam a barreira do tempo. São apenas alguns pensamentos de alguém com um pouco mais de vivência e conhecimento.
Nas palavras de Rousseau, a frase "Maldito o dia em que um homem cercou um pedaço de terra e resolveu chamá-lo de seu" estão o conceito de propriedade privada, que surgiu com esse ato de cercar a terra e declarar-se seu proprietário, foi o estopim para a desigualdade social e a decadência moral da humanidade. Através dessa atitude de posse, conquista de territórios, humanos revelam sua semelhança com os animais ditos inferiores.
Muito obrigada por sua leitura!📚 📚