Bloqueio Criativo
Há algum tempo, a escrita veio como uma doença contagiosa: um vírus que transforma as pessoas em escritores compulsivos, produzindo textos sem sentido e espalhando a "doença da escrita" pelo mundo. Até analfabetos escreviam.
Depois desse evento, tomou seu lugar o que é relatado nos parágrafos abaixo:
O bloqueio criativo era uma praga que assolava o planeta. Escritores, pintores, músicos, todos sofriam da mesma maldição: a mente em branco, a inspiração em hibernação. Alguns diziam que era uma conspiração do inconsciente coletivo, com a ajuda de uma entidade espiritual que, não se sabem os motivos, havia sugado todas as ideias originais da humanidade.
“Durante a noite, tive uma ideia, quase que como um delírio incontrolável", confessou o escritor em seu diário. Estava preso em um elevador com Stephen King, que o obrigava a escrever um conto de terror a cada segundo. Saiu do transe suando frio e com uma ideia horrível para uma história.
Desesperado, ele recorreu a métodos cada vez mais estranhos . Fez um pacto com seu gato, um felino de olhar enigmático, para que o ajudasse a escrever um romance épico. O gato passou a noite inteira correndo e apagando tudo o que o escritor digitava, e ainda ronronava com satisfação ao ver o resultado de sua sabotagem.
“A escrita é como construir um castelo de cartas", refletia o escritor, enquanto tentava organizar suas ideias. "A menor brisa pode derrubar tudo." Ou, como dizia seu guru espiritual, um sujeito extravagante que se autodenominava "Mestre da Inspiração": "A escrita é como fazer um bolo. Primeiro você precisa dos ingredientes certos: uma pitada de criatividade, uma colher de sopa de imaginação e um ovo de ouro da inspiração. Depois, você mistura tudo e espera que a mágica aconteça." Palavras quase vazias, proferidas para atingir inteligências medianas.
Como todo psicopata, não seduzia apenas pobres incautos, como também pessoas com altas habilidades e formações acadêmicas. Tinha uma lábia que poderia convencer a qualquer um acreditar e fazer qualquer coisa.
O escritor tentou de tudo: dançou desengonçado ao som de uma música estranha, abraçado ao Froggy,
seu sapo vermelho de silicone, brinquedo da infância, trazido por seu pai, na década de setenta dos EUA; meditou com mantras no chão de um banheiro público, comeu umas comidas exóticas e intragáveis, importadas do oriente, tidas como milagrosas; regou sua planta de dinheiro com café e água benta. Nada funcionava. A planta murchou, e a inspiração continuava a ser um fantasma.
Em um último ato de desespero, o escritor decidiu seguir os conselhos do Mestre da Inspiração e realizar um ritual bizarro: dançar uma dança muito ridícula no meio da rua, vestido de “piranha”, fantasia de carnaval.
Ele começou a se contorcer, a girar e a pular, atraindo olhares curiosos e algumas risadas, inclusive as do guru canastrão.
De repente, uma ideia o atingiu como um raio. A dança ridícula, a roupa de mulher, a sensação de vergonha... tudo isso era material para a inspiração de que ele precisava. E não é que o mago aloprado acertou?! Ou talvez tenha sido sugestionado. Começou a escrever freneticamente, as palavras surgiram fluindo como as águas de um rio.
Descobriu as causas do bloqueio criativo: uma questão de perspectiva. E às vezes, a melhor maneira de desbloquear a criatividade era dar vazão aos pensamentos sem autocensura, sem medo de ser julgado. Podia ser ridículo, abraçar a loucura e deixar que a imaginação corresse solta.
O escritor continuou sua jornada, enfrentando novos desafios e novas aventuras, sempre com um sorriso no rosto e um “lápis na mão”. Afinal, a escrita era uma montanha-russa: cheia de altos e baixos, de momentos de euforia e de momentos de desespero. Mas era nessa oscilação que encontrava sua essência, seu equilíbrio e desequilíbrio.🤪
A escrita flui por uma estrada deserta com muitas vertentes e ramificações, muitas vezes têm barreiras, ladeiras, barricadas trechos empedernidos, perigos, emboscadas, desastres naturais, predadores, vírus, viroses, sentimentos antagônicos...
Conseguiu a autocura.
Tempos depois, a tal entidade apareceu para ele, aterrorizando só com a força da energia da sua presença, e esse medo 😱 contribuiu ainda mais para a evolução da sua escrita.
Muito obrigada por sua leitura! 📚 As músicas 🎶 incidentais, também as crio.