Não gosto de elevadores porque desenvolvi claustrofobia. Eu não era assim. Alguns, os mais velhinhos, até pego; desses que têm sanfona, portinhola, mas os muito herméticos, nem a pau! Quando eles pifam, para tudo: ventilador, número do andar, luz apaga, esquenta, falta ar. Não adianta fazer força pra abrir as portas que não abrem.
Um dia, uma ascensorista do edifício garagem me contou ter trabalhado até tarde e, apagaram as luzes do prédio. A esqueceram dentro do elevador. Ela estava tão cansada que pôs a bolsa no chão, fez de travesseiro, e se deitou, acordando só no dia seguinte. Ainda bem que era dia de semana, e se fosse verão e sexta-feira?! Só ia ser liberta na segunda-feira de manhã! Não quero nem pensar numa coisa dessas. Eu morria! Eu morreria!
Nem sei como isso começou em mim. Talvez seja em decorrência de muitos trabalhos feitos pra me amarrar amorosamente, ou para a minha vida não ir pra frente. Um conselho: não conte seus planos a ninguém!
Outro dia, fui visitar um amigo que mora no décimo andar, aqui mesmo em Copacabana, naquele elevador eu entro, ou, pelo menos, entrava. Chegando lá, pusemos umas músicas, conversamos sobre coisas complexas, outras simples, comemos coisas muito gostosas, tomamos uma garrafa de um vinho francês magnífico. E, depois de umas três horas, nos despedimos.
Peguei o elevador, bem espaçoso, apertei o botão do térreo, a sanfona fechou e começou a descer. Por volta do quinto andar, parou entre dois andares, só se via o paredão de concreto. Já me bateu um certo desespero 😢, coração batendo forte, falta de ar. Apertei o alarme, não funcionou. Tirei o celular do bolso para me comunicar com alguém, e estava sem sinal. Havia câmera de segurança, será que não tinha ninguém me vendo?! De repente a luz ficou fraca. E o elevador voltou a funcionar, no entanto, não parava de descer e ia ficando cada vez mais quente, senti muita sede, ia perdendo os sentidos quando parou e abriu a porta, num lugar quente demais, penumbroso, fumaça de cigarro, luzes vermelhas, perfumes, aromas, incensos, cheiros de comida boa, também de coisas podres...
Ouvi uma música e vozes ao longe. Aquele lugar parecia interminável, uma cidade subterrânea. Enquanto observava o local com um misto de medo e admiração, alguém cutucou as minhas costas, olhei pra trás e vi um ser pequenininho, da pele vermelha e cascuda. Com uma voz muito grave, falou:
- Seja bem- vindo! Ele quer falar com você!
- Ele quem? – Perguntei.
- Você sabe! Por um acaso não foi você quem, num dado momento da vida, quando nada de bom dava certo, fez uma promessa, que aliás não cumpriu, já que ele deu tudo o que você pediu?! Pois é, chegou o momento de pagar. Ou então, daqui pra frente tudo será ruína.
- Sim, agora estou me lembrando! Mas já faz tanto tempo!
- Ele disse que o senhor é um ingrato!
- Ele pode ter razão sim. Muitas vezes nos esquecemos de quem mais nos estendeu as mãos. Sei que pedir desculpas é pouco, mas eu pago a promessa!
-Agora não adianta mais!
Nessa hora, entrei em pânico e saí correndo na direção do elevador. Eu sabia que ao lado dele havia uma escada. Porém não encontrei nada ali. Corri, seguindo a intuição, naquele lugar escuro. Foi aí que uma pequena bola de luz chegou perto de mim, senti que ela queria me ajudar. A deixei entrar na minha cabeça e guiar meus passos.
Caí num vão, não sei se em um bueiro. Atordoado, dei mais uns passos e vi uma nesga de claridade logo acima.
Subi uma escada de ferro, empurrei uma tampa e estava no meio da rua Barata Ribeiro.
Fui pra casa e tomei um banho de sal grosso. Durante o banho, fiquei pensando em quem seria capaz de me ajudar a resolver o problema desse pacto não cumprido: um padre, um pastor, um pai de santo...
Bem, agora mesmo é que não vou pegar mais elevadores em hipótese alguma.
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Fiquem à vontade para lerem meus textos e ouvirem meus áudios musicais.