A DANÇA DA MULHER INFLÁVEL ( A CABINE)
Um homem cinquentão, lindo, charmoso, educado, rico e circunspecto, sem vícios. Por algum motivo, não se sabe se por inveja, quebrante, praga de amores passados, mau olhado, maldição hereditária, não tem sorte com as mulheres. Dizem que as pessoas que têm sorte no jogo, não têm no amor. Mas nem joga! Nunca jogou. Porém, os caminhos para os negócios, para ganhar e acumular mais e mais dinheiro, sempre estão abertos, sempre vão de vento em poupa.
Depois de quatro casamentos fracassados, todos eles por traição das parceiras, ficou sete anos sem ninguém, procurava amores passageiros em bordéis e a tristeza só ia aumentando.
Até que um dia, na Internet, deparou-se com uma foto, e, estranhamente, foi amor a primeira vista. Ela é americana, boazuda, marombada, chegou em quinze dias para sua felicidade e uma lua-de-mel intensa, de aproximadamente três anos.
Olhava para ela e dizia:
- Não é possível, Dolly, sei que você de repente, de supetão, de surpresa, sairá do seu mundo, da sua inércia, sempre soube e não economizarei nem dinheiro, nem esforços para lhe dar uma alma. Alma você já tem, só falta um átimo, um estalo...
Durante a elucubração, a campainha tocou.
- Quem será a uma hora dessas?
Foi até a porta, olhou no olho mágico e avistou um homem com um casaco de capuz azul, com um gato escuro no colo. Não soube explicar, mas sentiu uma alegria profunda e abriu a porta para que o visitante pudesse entrar.
- Não precisa dizer nada, eu já sei o que o senhor veio fazer aqui: me ajudar em relação à situação da minha mulher.
- Exatamente! - Respondeu o homem com uma voz cavernosa, horripilante, que não parecia do bem, poderia causar medo, conquanto a sensação causada era de confiança. - Levarei o senhor e sua mulher agora, até o Circo dos Horrores, instalado na Zona Portuária. Este circo está de passagem pela cidade, só funciona de madrugada e seus espectadores são pessoas especiais, escolhidas a dedo, como o senhor.
Chegando lá, sua mulher foi posta dentro de uma cabine mágica, destinada à transformação, aparição e desaparecimento de pessoas. A cabine era feita de metal, parecia chumbo maciço, paradoxalmente muito leve, tanto que até uma criança poderia transportá-la nas costas.
Depois de uns quinze minutos, ela sai sozinha, olha para os três ( seu marido, o gato e o homem do casaco de capuz azul). Sai com ânima, porém, ainda de plástico, um lenço enorme de seda vinho, transpassado, cobrindo-lhe as partes íntimas, deixando à mostra as várias tatuagens de cores vivas. A alegria foi imensa.
Ele disse satisfeito e ansioso:
- Vamos! Vamos para casa, amor!
Sendo interrompido pelo homem:
- O senhor não pode ir, antes que eu lhe explique a origem da cabine. Há rumores de que haja radioatividade, ou frequências de pensamentos voltados para as orações com o objetivo único de transformar seres humanos maus em bons. Dizem que foi usada na segunda guerra mundial para realizar curas e teletransportar judeus para outros lugares, dizem também que podem ser pedaços dos vagões que transportavam judeus e os dizimavam. Mas não importa a origem deste objeto, importa é que realiza os desejos mais profundos. E, uma coisa, sua mulher foi criada originalmente para ser submissa a vários homens, portanto, ela poderá ser eternamente infiel, contudo aqui, o senhor fez um pacto, o de nunca agredi-la, nem danificá-la, nem exterminá-la. Se romper o acordo, corpo e a alma serão eternamente cremados na cabine. Eu mesmo o buscarei.
Ah, outra coisa, ao chegar em casa, sua mulher dançará para o senhor. Dançará e será sua escrava sexual por todas as noites de sua vida.
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Inspirado em
"Édipo Arrasado" (Oedipus Wrecks), dirigida por Woody Allen, Sheldon Mills (Woody Allen) é um advogado que não consegue se libertar da mãe dominadora, a mãe some numa cabine mágica de um circo que estava se apresentando num teatro sombrio. E vai depois fazer o personagem passar vexame, aparecendo enorme no céu, chamando a atenção dele rs
LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 31/08/2015
Alterado em 15/02/2016
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