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O GATO DO PADRE

     Gatos e gatas arranham de vez em quando, por diversos motivos. Conquanto, em maioria, são tão mansos, coitadinhos, querem carinho. Mas a natureza caçadora...De uma hora para outra o instinto aparece e é sanguinário. O pussycat, não é bom, nem ruim, é uma criatura de Deus e por falar em Deus, Apresento-lhes Rubinho, o gato do padre. Rubinho, um gato SRD, peludo, como os persas, focinho chato. De cor café com dourado. Dócil, dócil. E era Rubinho para lá, Rubinho para cá, amor em tempo quase integral, exceto quando o padre ia desempenhar seu ofício: celebrar as missas da paróquia. Era só este tempo que os mantinha afastados.

     Quatro longos anos de amor. Certa vez, Rubinho sumira por um dia, seu dono ficou apreensivo, mas pensou: "com a glória de Deus, ele voltará são e salvo".          De madrugada, quando foi olhar para o pátio da igreja, ficou surpreso: havia uns quinze gatos andando um atrás do outro em uma roda; cada vez um saía e ia comer ração, tomar água e voltava para o círculo. Seu coração bateu forte de alegria ao ver seu Rubinho no círculo, cochilou um pouco, quando acordou, já era dia claro, cedo, mas dia claro. Rubinho estava sozinho no pátio. Tinha voltado e quando viu seu dono miou, fez festinha, tanta alegria, mas tanta alegria... que nem perceberam estar sendo observados por uma criatura magra e esguia, com um casaco de capuz azul, sentada em um dos bancos, no interior da igreja. O padre, ao notá-la, foi em sua direção, a cumprimentou, fez um aceno com a cabeça e assustou-se quando escutou da pessoa a risada mais maléfica que havia escutado na vida.

Deu um passo para trás, pegou sua cruz de prata apontou para ela e gritou:
-Vade retro, Satanás!


Foi aí que viu seu bichano correndo igual a uma flecha, pelo interior da igreja e quebrando todos os santos que podia quebrar. Ao voltar-se para a presença maligna, ela havia sumido.

Ao ver os santos quebrados, pela primeira vez, sentiu raiva do seu gato, correu atrás dele com um cinto para aplicar-lhe um corretivo. Mas seu felino era muito mais ligeiro. pulou de parede em parede, de estante em estante com, acreditamos, a velocidade da luz. Num bote final, foi direto à jugular de seu mestre e só a largou quando o padre já estava caído, inerte e sem vida.
Alguns fiéis apareceram na hora H , mas nada puderam fazer. Rubinho correu para fora da igreja; ainda uns e outros o puderam ver sumir na encruzilhada, acompanhando a criatura do casaco de capuz azul.

LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 02/01/2015
Alterado em 01/10/2015
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