SÓ HÁ VICTORIAH PARA O GUERREIRO, PARA O JUSTO, PARA O QUE ENFRENTA O MUNDO COM CORAGEM, OTIMISMO E ALEGRIA. DEUS É BOM! FORÇA! VICTORIAH SEMPRE!
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INEFÁVEL

Acontecia algo bem estranho com Jorge: ele nunca dizia o que estava pensando realmente.

As palavras, quando tocavam o ar, eram sempre a antítese, o oposto de suas razões; isto se dava involuntariamente e causava-lhe grandes problemas, quase levando Jorge à ruína. Não entendia o porquê de acontecer tal coisa justamente com ele. Mas nem sempre foi assim, Jorge tinha o respeito e admiração de todos, sem exceções, por sua inteligência, por seu caráter indelével, por ser justo e centrado. Essência que despertava a inveja de muitos também. De uns anos para cá, é que essa "anomalia" ( vamos rotular assim) surgiu e foi se intensificando gradativamente.

A família e os poucos amigos restantes souberam do fato, devido a uma carta escrita por ele ao melhor amigo e confidente, extraviada não se sabe como, provavelmente por descuido do seu portador desligado. Foi melhor assim, seu braço direito tem por predicativo ser um indivíduo muito inerte, capaz de não tomar atitude alguma quanto ao impasse.

Engraçado é que dispostos no papel, ou grafados em qualquer aparelho, os vernáculos obedeciam Ipsis litteris aos fluxos de seu raciocínio. Sorte de Jorge, pois quem gostava dele se juntou para tentar solucionar seu caso. Jorge, nos últimos tempos, nem falava mais, optou pela mudez, por uma questão de sobrevivência no mercado de trabalho, Porque se Jorge queria preto, saía branco; se escolhia dia, saía noite; quente saía frio; amor, ódio...

Primeiro levaram Jorge a um psiquiatra que foi logo sentenciando: distúrbio de ansiedade! E tascou-lhe uma série de remédios controlados muito fortes. De nada adiantou, e Jorge cada vez mais triste, desesperado, definhando. A namorada o abandonou, foi perdendo a estima dos fãs, que já o olhavam com deboche.

Tentaram a hipnose, culminando numa terapia de vidas passadas, sem êxito, porque mesmo induzido, Jorge não acreditava em reencarnação.

Sentou-se num banco, no calçadão, no Arpoador, morava na rua Cunning, de frente para o mar, quando alguém tocou seu ombro. Contra o sol, virou-se meio de lado para poder ver quem era e teve a impressão de que a pessoa emitia luz, ela trajava um casaco longo de capuz azul, que cobria parcialmente seu rosto ( casaco no verão de quarenta graus?!) Seus olhos enviaram uma mensagem diretamente ao seu cérebro:

- Meu filho, isso aí foi trabalho feito, entra agora no mar e entrega o seu espírito a mim, tudo isso passará!

E Jorge imediatamente correu pelo areal, mergulhando de roupa e tudo, nas águas azuis e cristalinas, sentindo uma paz inefável, talvez ali estivesse a sua cura.
LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 28/09/2014
Alterado em 16/02/2016
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