VAN FILOSOFIA
Escrita
Hoje de manhã, há pouco, são 12h 02 min, vindo da padaria, abri a porta de casa e minha cadela saiu em disparada, em direção ao nada e começou a latir, veio para perto da porta, meio com medo, abaixada, latindo e abanando o rabo para uma presença espiritual que eu não via. Talvez a entidade fosse a inspiração que eu precisava para escrever o texto a seguir. Escrita é encosto!
VAN FILOSOFIA
Você deve estar pensando: "Nossa, que erro crasso de português no título!" Mas é assim mesmo que eu quis, em vez de vã; van, o veículo. Eu sou um cara esotérico, místico e também um cientista recém formado doutor em filosofia pelo IFCS e psicologia pela UERJ. Acredito no mundo invisível, nas forças invisíveis, além dos seres microscópicos, é claro, estou me referindo ao poder da mente, às crenças, à magia e tudo o mais que envolve esse âmbito.
Com pouco dinheiro, resolvi abrir um negócio inovador, de início clandestino, pois não sabia bem o que iria realizar. Comprei uma van antiga, mas grande, espaçosa e resolvi batizá-la de Van Filosofia. Ela seria itinerante, porque não tinha licença comercial, então teria que circular com ela, antes que a fiscalização me pegasse.
Ali naquela van, comecei a dar consultas a preços populares: de vinte minutos a cinco reais, de trinta a cinco reais. Ali eu trabalhava todo o psicológico da pessoa, através das cartas, dos búzios, da sensitividade, dava passes, fazia hipnose, regressão, magia, receitava banhos, chás de erva, trabalhos, ouvia os problemas e apontava os caminhos seguindo a probabilidade do futuro da pessoa e de seu querer. Fiz clientes cientes, mais do que satisfeitos e assíduos, porque estava sempre em um dado dia da semana à mesma hora, no mesmo lugar; que já me pagavam caro, e me davam presentes sem eu pedir. Já possuía, em alguns meses, dinheiro suficiente para comprar uma sala comercial no Centro da cidade e abrir um consultório.
Certo dia, chegou um indivíduo: um homem jovem, lindo, atlético,alto. Barba cerrada, voz possante e grave. Ele me revelou um segredo que o atormentava, sobre uma conduta sua. Estava em dúvida se queria mesmo deixar algo que o afligia e ao mesmo tempo dava prazer. Pedi para que pensasse bem e retornasse quando tivesse a certeza da opção.
Ele voltou na outra semana me ameaçando, com medo de que eu tivesse contado para alguém o que me disse. E eu, por causa disso, fui obrigado a não mais parar naquela rua, mas o cara me achava sempre, eu o via escondido atrás de carros, árvores, postes, bancas de jornal.
Com fome, tarde da noite, resolvi sair do carro e atravessar até à lanchonete da esquina, ele me agarrou por trás, girando minha cabeça para quebrar meu pescoço, mas na hora H uma patrulhinha passou, e policiais nos arrastaram até à delegacia. Prestei a queixa, e ele foi preso em flagrante. Agora, ele vai ter muito tempo para refletir sobre o que deseja realmente, se bem que na cadeia, só terá um veio.
Com esse episódio eu nem sei mais o que fazer da vida, se eu sigo com meus empreendimentos, se dou prosseguimento aos meus projetos, sem ter contato físico com os clientes e só através da Internet; ou se torro quase tudo numa viagem sem previsão de volta pela Europa, já que dez por cento pretendo doar para uma ONG que resgata, trata, cuida de animais abandonados nas ruas e os conduzem à adoção.
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COLEGAS, ESCUTEM MEUS ÁUDIOS MUSICAIS! BEIJO