A NUVEM REX (NEFELIBATA)
O que me inspirou neste texto foi o descanso da tela do computador: montanhas verdes, céu azul e nuvens; o meu aniversário, o dia da amizade e o desejo de voltar a escrever.
A NUVEM REX
Muitas nuvens cinzentas abaixo de um lindo céu azul e sobre a Cidade Maravilhosa, onde vivo. Vai chover! – Penso eu, sem dar tanta importância a elas, mas, sou um nefelibata incorrigível, tentando encontrar formas existentes em nosso planeta e, desejando mais fortemente encontrar sinais, sejam eles místicos, mágicos, sobrenaturais ou ordinários para explicar os fatos corriqueiros e os inusitados da vida e da morte.
Viajando de avião, de carro, de navio, não dirigindo ou pilotando, é claro, senão certamente sofreria acidentes, deixo a imaginação vagar até as nuvens e admiro reis, rainhas, hipopótamos, duendes, diabinhos, gatos, cachorros, coelhos, papagaios, e os vejo se dissolvendo lentamente, para assumirem outros papéis e dar lugar aos que vêm mais adiante, em outro tempo, em outros espaços ainda não percorridos por mim. Vou fotografando as figuras, segundo meus gostos pessoais, mais interessantes, como reações de criança diante de eventos novos. Para o pensar infantil, tudo tem um quê de encantamento. Mesmo, nós adultos, buscamos formas de mascarar e suavizar a realidade. Nuvens, para mim, são sinônimos de eufemismo; e as publico no meu site na Internet, não para ganhar notoriedade, muitos outros têm sites idênticos, mas como uma maneira solidária de compartilhar minha viagem, que no fundo é a minha busca pessoal. Pois bem, retomando a primeira linha, percebi que os tons de cinza iam tornando-se cada vez mais intensos, e subitamente fui arrebatado por uma lembrança da infância que certamente foi a causa deste meu vício. Lembrança esta que vem embalada por uma cortina de fumaça, pois faz muito tempo, mas logo logo a névoa se dissipa e torna-se clara como algo que me acontecesse todos os dias. Esta lembrança é outra nuvem e me acompanha. Eu morava e moro no Jardim Botânico, numa linda, ampla e confortável casa de três andares, com jardins, piscina, quadra de esportes, graças a Deus, sempre fui um privilegiado: rico, bonito, inteligente, agradável, esperto, popular, viajado, cheio de talentos na música, na literatura, na matemática, enfim nada nunca me faltou, já vim sendo embalado pelas mãos da sorte. Eu tinha uns nove anos de idade, eram 10h da manhã, estava sozinho, brincando com um graveto que acabara de cair de uma árvore, e disse ( meio brincando, mas acreditando na brincadeira ) : “ Esta é minha varinha mágica!” . Imediatamente, surgiu por detrás dos arbustos um lindo cãozinho branco da raça poodle, era um filhote abanando o rabinho e pulando, quis pegá-lo, colocá-lo no colo, ele correu meio assustado, se escondeu atrás de uma grande pedra e parou de latir, larguei o galho, quando localizei o animalzinho, já não era mais um cachorrinho, era uma nuvem e ela foi crescendo, crescendo, se tornando mais escura e, uma força me sugou para o seu interior, quis lutar, mas não consegui, fui arrebatado, gritei pela família desesperado, mas ninguém me ouvia, e fomos subindo, subindo lentamente, até que paramos na altura do Cristo Redentor, uma voz em meu interior dizia: “ Não tenha medo, você é um privilegiado, nada vai acontecer com você, aproveite o momento, aprecie o momento, olhe a cidade, o mar, o sol, sinta o cheiro do mato, das coisas, sinta o vento em seu corpo...” De lá, viajamos pelo mundo inteiro em um dia, vi as Pirâmides do Egito, o Taj Mahal, a Muralha da China, e percebi como o ser humano é grandioso ao criar moradias, civilizações, com sua inteligência e suor ( e muito suor, nem sempre tão justo, às vezes cruel ), ao se harmonizar com a natureza. Senti sede e bebi água da nuvem teve um momento em que eu acreditei que era a própria nuvem.
Já passava das 18hs, quando voltamos. Eu olhava extasiado, não acreditava que tinha voltado daquela viagem. Dei três passos para frente, pois começava a ficar escuro, para verificar se aquela era mesmo a minha casa, quando me voltei sorrindo para agradecer ao cãozinho-nuvem. Cadê? Evaporou-se?
Todos os dias, como agora, procuro pela nuvem que nomeei de Rex, mas é lógico, eu não vou encontrá-la, todas elas são mutantes.
“ Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma” ( Lei de Lavoisier que não é de Lavoisier)
LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 13/08/2009
Alterado em 13/08/2014
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