EXTRAÍDO DO MEU LIVRO "GAUCHE, A ESTRANHEZA*
ONDE ESTÁ MAMÃE?
Poxa, tenho cinqüenta anos e descobri, me contaram só há cerca de um mês, que fui adotado com meses de vida. Bem que eu desconfiava, porque ninguém da minha família se parecia comigo, nenhum traço sequer. Olha, eu quis matar todo mundo sabe? Tive uma revolta tão grande com meus parentes...Tudo por quê? A herança dos meus pais.
Enquanto eles estavam vivos todos eram meus amigos, depois... Eles acham que não tenho direito a nada já que não sou filho legítimo. Foi um baque muito grande constatar que sempre fui só no mundo, sempre vivi boiando num mar de mentiras...Agora dei para ouvir minha mãe me chamar, a minha mãe biológica que nunca vi. Começou bem baixinho. No início achei que fossem acusmas provocados pelo meu recente estado psicológico deplorável, mas a voz foi dia após dia aumentando o volume e hoje deu gritos tão fortes e desesperados que eu próprio me desesperei. De onde ela está me chamando, e porque só pronuncia meu nome? Será que minha mãe precisa de oração? Será que quer falar comigo? Eu estou achando que ela também está de olho na minha parte da herança, afinal meus pais deixaram a imensa fortuna só para mim, acho que estão pondo alguma coisa na minha comida, ou calmante, ou alguma outra droga, ou veneno? Onde será que estão pondo o veneno? Talvez eu mesmo esteja me envenenando com ideias. 
Fiquei muito cansado com essa história toda, necessito fazer urgentemente uma viagem, devo, até o final do mês, ir ao Caribe, deixar esse baixo-astral todo, iluminar meu ser com bastante sol, quem sabe lá encontro o amor que procuro a vida toda e que tenha tantos patrimônios quanto eu? Mandar tudo isso aqui às favas...Mamãe!? Some daqui, não quero mais ouvir sua voz. A senhora me abandonou quando eu era apenas um bebê, não quero ter contato com nenhum parente sangüíneo, capaz até deles virem querer dinheiro, e eu não vou dar, é meu, eu herdei, quer saber de uma coisa? Vou comprar minha passagem agora mesmo!
(Magrugada) Estou feliz, comprei meus tickets para o Caribe, viajo amanhã e não dou até logo a ninguém, vou dormir, estou com um sono danado... Ai, que bom, esticar o corpo na cama depois de um longo e exaustivo dia! Mamãe?!
- Bobbyyyyyyyyyyyy!?
- Mamãe?!
- ------Boooooooobbyyyyyyyyyyy!!!!!!!?????
- Ai, caramba, vou ter que me levantar para procurar essa velha pela casa!
A senhora está me infernizando!!!! Vou procurar em cada quarto, 
sala...pôxa, aqui tem doze quartos...Mamãe!?
- BOOOOOOOOBBYYYYYYYYYYYYYY!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!??????????????????
- O chuveiro ligado?
Mamãe, a senhora está aí? Só o chuveiro?! E ela? Deixa eu desligar essa água! Vou seguir o som, parece que ela está na varanda, o som está bem perto de mim! Cleonilda????!!!! O que faz aqui uma hora dessas? Também ouviu mamãe me chamar? Ouviu alguém me chamar? Como sei que é minha mãe? Eu sei que é ela, eu sinto! Vamos procurá-la? Como? 
O som vem daqui? Do ralo? Minha mãe está aqui?
Olho para dentro do pequeno ralo escuro e apenas vejo dois olhinhos assustados e arregalados...
ONDE ESTÁ MAMÃE?
Poxa, tenho cinqüenta anos e descobri, me contaram só há cerca de um mês, que fui adotado com meses de vida. Bem que eu desconfiava, porque ninguém da minha família se parecia comigo, nenhum traço sequer. Olha, eu quis matar todo mundo sabe? Tive uma revolta tão grande com meus parentes...Tudo por quê? A herança dos meus pais.
Enquanto eles estavam vivos todos eram meus amigos, depois... Eles acham que não tenho direito a nada já que não sou filho legítimo. Foi um baque muito grande constatar que sempre fui só no mundo, sempre vivi boiando num mar de mentiras...Agora dei para ouvir minha mãe me chamar, a minha mãe biológica que nunca vi. Começou bem baixinho. No início achei que fossem acusmas provocados pelo meu recente estado psicológico deplorável, mas a voz foi dia após dia aumentando o volume e hoje deu gritos tão fortes e desesperados que eu próprio me desesperei. De onde ela está me chamando, e porque só pronuncia meu nome? Será que minha mãe precisa de oração? Será que quer falar comigo? Eu estou achando que ela também está de olho na minha parte da herança, afinal meus pais deixaram a imensa fortuna só para mim, acho que estão pondo alguma coisa na minha comida, ou calmante, ou alguma outra droga, ou veneno? Onde será que estão pondo o veneno? Talvez eu mesmo esteja me envenenando com ideias. Fiquei muito cansado com essa história toda, necessito fazer urgentemente uma viagem, devo, até o final do mês, ir ao Caribe, deixar esse baixo-astral todo, iluminar meu ser com bastante sol, quem sabe lá encontro o amor que procuro a vida toda e que tenha tantos patrimônios quanto eu? Mandar tudo isso aqui às favas...Mamãe!? Some daqui, não quero mais ouvir sua voz. A senhora me abandonou quando eu era apenas um bebê, não quero ter contato com nenhum parente sangüíneo, capaz até deles virem querer dinheiro, e eu não vou dar, é meu, eu herdei, quer saber de uma coisa? Vou comprar minha passagem agora mesmo!(Magrugada) Estou feliz, comprei meus tickets para o Caribe, viajo amanhã e não dou até logo a ninguém, vou dormir, estou com um sono danado... Ai, que bom, esticar o corpo na cama depois de um longo e exaustivo dia! Mamãe?!
- Bobbyyyyyyyyyyyy!?
- Mamãe?!
- ------Boooooooobbyyyyyyyyyyy!!!!!!!?????
- Ai, caramba, vou ter que me levantar para procurar essa velha pela casa!
A senhora está me infernizando!!!! Vou procurar em cada quarto, sala...pôxa, aqui tem doze quartos...Mamãe!?- BOOOOOOOOBBYYYYYYYYYYYYYY!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!??????????????????
- O chuveiro ligado?
Mamãe, a senhora está aí? Só o chuveiro?! E ela? Deixa eu desligar essa água! Vou seguir o som, parece que ela está na varanda, o som está bem perto de mim! Cleonilda????!!!! O que faz aqui uma hora dessas? Também ouviu mamãe me chamar? Ouviu alguém me chamar? Como sei que é minha mãe? Eu sei que é ela, eu sinto! Vamos procurá-la? Como? Olho para dentro do pequeno ralo escuro e apenas vejo dois olhinhos assustados e arregalados...
LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 11/07/2009
Alterado em 22/02/2016
Alterado em 22/02/2016
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Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
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